Uma das grandes preocupações das pessoas que mudam de país, com exceção de Portugal, é o fato de a língua ser diferente. Será que aprenderei a língua? Será que os meus filhos aprenderão a língua? E o Português, será que eles esquecerão ou serão bilíngues? Como ensinar Português aos meus filhos, num pais que tem outra língua?

Antes de responder estas perguntas, profissionais especializados em bilinguismo apontam a necessidade de ter claro, os objetivos de aprender mais de uma língua. É importante saber:

1-Para que quero aprender a língua do país?

2-Para que quero que o meu filho aprenda outra língua?

3-Qual o nível de domínio que quero ter ou quero para os meus filhos?

4-Qual o método que vou utilizar? Artificial ou Natural?

5-Se você tem claro as respostas, já pode pensar no segundo passo : Como?  

O Espanhol e o Português são línguas muito parecidas e isso é ruim e bom. Bom, porque em poucos dias aqui, você já pode se comunicar com as pessoas. Ruim, porque misturar os idiomas é muito fácil e no final, já não sabe em que língua você se comunica: Se é Português ou Espanhol? O ideal é estudar a língua, fazer um curso, mas nem sempre é possível. Ler, escutar e não ter vergonha de falar te ajudarão muito.

E com os filhos? Aqui, eles aprenderão o Espanhol. Aprenderão, inclusive sem sotaque. E em alguns casos, começam até a te corrigir (Eita! Os papéis se invertem). Sem problemas, considere isso como um momento de aprendizagem. A única coisa que você não pode deixar é que eles te obriguem a falar um idioma que não seja do seu do seu coração. Isso, fale com eles a língua no qual você se sinta mais a vontade, que transmita mais emoções. E se sai um “vale”, não sinta culpad@. Isso acontece nas famílias bilíngues!

“Agora eu só falo com eles em espanhol, porque já não entendem o português?” Muitos dizem isso. Infelizmente, estão enganados. Esta situação pode mudar. Acompanhe com gestos, as frases em português ou as repita nos dois idiomas. Uma boa forma de praticar é com as rotinas de casa, por exemplo : “Guarde isso na gaveta”. A palavra gaveta é “cajón” em espanhol. Fale a última palavra nos dois idiomas. Você verá como entenderão perfeitamente.

Muitos brasileiros e pessoas de outras nacionalidades dizem: “E a vergonha de falar português na frente dos outros?” Isso é o famoso complexo de inferioridade.  Não! Ninguém é inferior… Não tenha esta vergonha! Algumas vezes, falar a língua do Caetano Veloso com os filhos, sem se preocupar se o resto do mundo escuta ou não, é maravilhoso. Mas, atenção! Não devemos ser mal-educados. Veja se a situação permite fazer isso.

Existe uma extensa lista de benefícios quando aprendemos duas línguas ao mesmo tempo. Além de saber dois idiomas, existem estudos que demonstram que estes cérebros são mais flexíveis. São melhores em tomadas de decisões e controle de inibição. Também são mais conscientes que as outras pessoas podem ter uma perspectiva diferente (maior empatia) e finalmente os sinais de demência podem demorar mais em aparecer.

Porém, nem tudo são flores. Também existem desvantagens em ser bilíngues. Os mais novos podem demorar em falar, inclusive alguns ficam temporariamente mudos. Além disso, em geral, o vocabulário de uma pessoa bilíngue, em uma das línguas, é menor que o vocabulário de uma pessoa monolíngue. Isso ocorre durante a vida inteira.

“O meu filho está demorando a falar. Acho que vou parar de falar com ele em Português” Essa é uma das muitas questões que aparecem. Existem alguns estudos que demonstram que falar somente em uma língua, nestes casos, não beneficia o desenvolvimento da fala. E do ponto de vista do bilinguismo, prejudica.

Lembre-se que as situações naturais são as melhores para aprender a falar. Então as utilize. Limitar os filhos de aprender a sua língua de origem pode causar danos à família, aos amigos, restringir possibilidades de trabalho, experiências de vida e o mais importante: prejudicar o afeto e o  amor que se tem pelos filhos.

Maria Carolina Pinto

Maria Carolina Pinto, Formada em Pedagogia pela UNED, mestranda em Psicologia Educativa. Cresceu num ambiente bilíngue com pai espanhol e mãe brasileira. Atualmente, mora na Espanha, com três filhos e marido espanhol num ambiente familiar bilíngue.

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